(COMENTÁRIO DA IMPRENSA)
De uma forma geral, considerou-se que a escolha de Ferro Rodrigues para líder parlamentar do PS foi uma boa decisão. Acho o contrário.
Não está em causa a sua seriedade e competência. É um político sério e que se esforça por fazer o seu trabalho bem feito. A questão é outra: Ferro Rodrigues traz de volta o passado.
Foi líder do PS, demitiu-se por discordar de Jorge Sampaio (quando este aceitou Santana Lopes como primeiro-ministro) e o seu regresso à ribalta remete para tempos idos.
Não é uma aposta virada para o futuro: é uma espécie de acerto de contas com a História.
Além disso, Ferro Rodrigues mão é um bom tribuno.
É um orador fraco, como se viu nos debates que manteve na campanha eleitoral de 2002, em que foi derrotado por Durão Barroso.
A escolha de Ferro Rodrigues reforça a impressão já existente de que António Costa está a rebobinar o filme PS.
Reconheça-se que António José Seguro, com todas as suas limitações, trazia consigo a ideia de um virar de página, enterrando o socratismo e iniciando na vida do PS um ciclo novo.
Mas António Costa não. Veio repescar os socráticos (como Pedro Silva Pereira ou Vieira da Silva), promoveu o regresso à ribalta de militantes como Jorge Lacão ou Ana Catarina Mendes, para lá de ter atrás dele toda a "brigada socialista do reumático", por muito ilustre que seja (e é): Mário Soares, Jorge Sampaio, Almeida Santos, Vera Jardim, Manuel Alegre...
Em vez de apontar para a frente, construindo um PS renovado e desempoeirado, António Costa traz de volta um PS gasto e envelhecido.
E há outras questões delicadas, que vão no mesmo sentido. Como é público, José Sócrates, nos seus comentários na RTP, tem-se posto ao lado de duas pessoas: António Costa e... Ricardo Salgado.
Mário Soares, um pouco inesperadamente, fez o mesmo - e saiu à liça em defesa do banqueiro. Com estes gestos (e outros no mesmo sentido), o caso BES ameaça tornar-se uma questão política.
Cabe recordar, a propósito, a cumplicidade que sempre existiu entre Salgado e Sócrates, quando este foi primeiro-ministro - enquanto Passos Coelho, desde o primeiro dia, se demarcou da família Espirito Santo (recusando, por exemplo, solicitações feitas por José Maria Ricciardi).