Tavira e o seu Quartel
Prudêncio
Matias
Durante muitos e
muitos anos, Tavira foi sede de regimentos militares, na perspectiva de que a
independência do País se garantia na defesa das suas fronteiras terrestres e
marítimas. E nos vários episódios que a História nos conta, foi isso que
aconteceu.
Agora, que estamos numa de pensar que serão os outros
(europeus, americanos ou, se calhar australianos) a defender a nossa
independência contra qualquer invasão, não parece bem assim.
Invasão, diga-se, a
propriamente dita. Porque quanto às outras invasões – da pouca vergonha, da
criminalidade, ou de outra qualquer das ondas que estão em voga por esse mundo
fora – não existe alerta que chegue nem contenção que garanta a manutenção dos
nossos hábitos, das tradições e da maneira de ser do portuguesinho.
Chega de conversa
“fiada”. Onde queríamos chegar, é apenas ao facto de o nosso poder militar se
ter ido por-água-abaixo. Novos Navios ou novos aviões que assegurem,
integralmente, o nosso poder sobre a Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal,
foram preteridos a favor de um nebuloso negócio de submarinos que nunca mais
aparecem (estarão submersos?), nem sei que missão, um dia longínquo, virão a
desempenhar sem largos custos.
Essa falta de
conhecimento é por certo deficiência minha, já que não tenho no meu currículo
qualquer passagem pelas fileiras militares. Do que tenho alguma pena. Mas o
avaliar da evidência de certos não-procedimentos
– julgo eu – não depende só da especialização de cada um. Depende muito da
nossa percepção como português e como interessados em tudo quanto, no âmbito da
coisa pública, se vai desenrolando em
nosso redor.
Por
isso, e na sequência da ideia inicialmente exposta, lembramos que Tavira, sede
de prestigiadas unidades militares em toda a sua história, acaba de perder, e
desta feita parece de vez, o Regimento de Infantaria - RI/1 - que durante os
últimos anos trouxe a esta cidade uma nova dinâmica.
Embora o efectivo
ficasse aquém da capacidade instalada, a sua existência, além de dar vida ao
excelente Quartel da Atalaia – um dos melhores do País – qualificava a cidade
de Tavira e fortificava a nossa sensação, embora mínima, de que o Algarve
estaria, pelo menos nalguma logística, com um instrumento de defesa imediata
contra qualquer ataque em forma convencional.
-o-o-o-
Podem dizer-nos, e
com alguma razão, que os ataques, hoje, se dão por satélite, que as invasões se
fazem pelo ar ou pelo mar, com instrumentos de precisão e alta tecnologia,
perpetrados a grandes distâncias. Talvez assim seja.
Mas o que fica do
facto do Regimento de Tavira ter passado para Beja, no pomposo cerimonial de
despedida do dia 25 de Setembro na Praça da Republica, é a simples forma de perguntar se algum dos emproados dirigentes civis
que no acto representavam o Município e as suas forças vivas, terá aproveitado a oportunidade para solicitar a
cedência do Quartel/edifício à cidade Tavira, para ali ser instalado um
qualquer Serviço público, no aproveitamento das magníficas instalações. A
nossa experiência nos dirá, decerto, que ninguém se importou com isso.
Estou a pensar num
Polo Universitário. Estou a pensar num Serviço de Bombeiros. Estou a pensar
numa boa dezena de aplicações. E, quanto ao Polo, recordo que ele seria
fundamental, na vertente pública ou privada, por exemplo, na área pedagógica da
Geriatria, envolvendo as diferentes especialidades ligadas à terceira idade e
apoio ao idoso.
Estou a pensar em
tudo, menos na ideia de que vão deixar, mais uma vez, que o Quartel da Atalaia, só porque se diz pertença da Instituição Militar, permaneça inerte, em vez da
sua utilidade pública.
O que é errado. O
Património do Estado não tem qualquer dono especial. E se é património e é do
Estado, que lhe seja dado um fim que sirva a Comunidade onde está implantado e
nunca apenas alguns interesses corporativos.
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