Sempre imaginei que a indicação dos nomes para as ruas de uma cidade deveria obedecer a critérios de ligação à vida local, destinando-se aos actuais e/ou futuros cidadãos a referência a este ou àquele antepassado que alguma coisa terá feito pela sua terra.
Assim, ninguém em Tavira esquecerá Paio Peres Correia, António Padinha, Tomás Cabreira, Emiliano da Costa e tantos outros nomes de que se encontra semeada a toponímia tavirense.
Nos últimos anos, contudo, houve grande descontrolo a esta premissa, quando a respectiva comissão resolveu, em certo despique interno, propor nomes dos mais estranhos, sob justificações ainda mais esquisitas. E o Município acedendo sem regatear…
Não vou agora lançar aos eventuais leitores a autentica parafernália de desconhecidos que figuram na toponímia local. Mas um dia em que acorde melhor disposto sou capaz de o fazer. Prometo!
Hoje apenas dou conta de uma tripla distorção que incomoda. E que algures vi, cada uma de sua vez, referidas em interessantes comentários.
Caso 1 – O Sr. António Rodrigues Santos, proprietário da Livraria com o mesmo nome, faleceu em Tavira, e foi desde logo consensual que a sua figura mereceria uma placa toponímica. Anos mais tarde foi-lhe destinada uma pequenina rua nas traseiras do Alto de São Braz. É uma artéria de ligação e não sei se tem algum número de polícia. Parece-me bem que não.
Caso 2 – Sebastião Leiria, falecido em 1973, foi músico, poeta, jornalista, maestro da Banda, encenador, etc., que muito deu à cultura local, sempre com sacrifício da sua saúde, que era precária. E tanto era, que a morte o levou prematuramente.
Com o rompimento urbano da Colina dos Mouros e a ligação da rotunda dos bombeiros à passagem de nível, entendeu a CMT dar o nome de Sebastião Leiria à rua que estabeleceu a referida ligação. Mas, azar dos azares: trata-se de uma artéria que não tem número de polícia. Nem se perspectiva que algum dia venha a ter. De um lado um longo muro. Do outro, apenas acesso a vários largos e arruamentos.
Caso 3 – Falecida a artista Amália Rodrigues, foi muito rápida a decisão que alterou a designação de uma rua no centro da cidade. A Rua Nova da Avenida passou a ser Amália Rodrigues, coisa que os dois tavirenses de vulto não conseguiram, mesmo tendo feito por Tavira aquilo que a fadista nunca fez… Até porque, se alguma vez se terá lembrado desta cidade, foi certamente pela origem dos cheques com que lhe foram pagas as suas duas actuações.
Em resumo: Lembrar António Santos ou Sebastião Leiria, nunca poderá ser através da correspondência, função que faz prolongar no tempo a memória daqueles que pela toponímia se homenageiam.
Em contrapartida, na Rua Amália Rodrigues situa-se o Serviço de Finanças de Tavira. É essa a “dolorosa” referência que trazem as cartas com que os contribuintes tavirenses são compelidos a cumprir as suas obrigações.
E, assim, o nome da fadista fica ligado à má memória postal com que o fisco nos vai espremendo a ressequida carteira.
Resta-me, apenas pelo desvairado atropelamento que da realidade se fez, a consolação de um desabafo que o meu neto de tenra idade já usa com frequência: - Benfeita!
Lopes Sabino
Sem comentários:
Enviar um comentário