Por
Lopes Sabino
Dei
por mim a pensar o que será do concelho de Tavira num futuro mais ou menos
próximo.
Não
encontrei grande consistência numa boa resposta que – pensei – seria desejável para todos aqueles que gostam dela.
Tanto da cidade, como do todo harmonioso em que se constitui o seu território.
Hotel Vila Galé Albacora, De centro nevrálgico de uma armação de atum, a hotel de qualidade |
Nos
anos 40 do Sec-XX, Tavira entregava-se à economia rural assente numa certa
suserania que garantia rendimentos anuais, mas pouco cuidava de desenvolver ou
inovar.
A
amêndoa, o figo e a alfarroba eram o filão principal. Mas a decrepitude dos
pomares de sequeiro, a perca dos preços de referência e o próprio tempo ajudaram
ao desaparecimento dos grandes senhores rurais.
Nesse
mesmo período, com a indústria do calçado, outrora forte, mas repartida pelos
artistas individuais que foram desaparecendo, uma outra actividade impava e
enchia os bolsos dos seus proprietários. A pesca do atum, detida por uma pequena
massa accionista que repartia vultuosos lucros anuais, era um maná em acumulação
de riqueza imobiliária. Ou em fonte de poder político e social.
O
comércio, então tradicional, mas dependente dos ganhos salariais da população, constituía
um baluarte económico e complementar às restantes actividades, num tempo em que
Tavira era uma cidade onde havia dinheiro. Mas também com muitas carências. A
existência dos cursos militares tinha o seu quê de irrisório, funcionando
apenas em direcção a uma pequenina economia directa.
Entretanto,
o vento e o tempo, tudo varrem.
Foi
o que, com a escassez do atum, aconteceu a tais elites, de cujas mãos escorreu
o poder que detinham. Se os ventos eram outros, os tempos também. E não pode
ser esquecido que, além da falta de inovação e de reinvestimento, a facilidade
em obter a mão-de-obra barata, quase mendicante, que movimentava uma armação de
atum, tinha os dias contados.
Por
meados dos anos 60, outras actividades subiram ao topo. Alguns dos agricultores
conseguiram vender as suas terras para o turismo a preços difíceis de perceber.
Outros foram obrigados a dar lugar a uma nova geração que implantou culturas
intensivas – pomares e hortícolas – com rara participação de antigos
proprietários.
Foi
assim que o turismo e uma agricultura renovada entraram para o lugar, em
aberto, de motor da economia tavirense. A construção civil teve o seu papel na
implantação do cimento por tudo quanto era local adequado, ou mesmo não
adequado, à urbanização turística ou habitacional.
Os
grandes comerciantes foram sendo substituídos pelos seus primeiros empregados.
Estes assumiram um novo papel, na modernização e inovação. Mas havia de ser por
poucos anos. A actual “oferta” chinesa de grandes trespasses e altas rendas mensais
absorveu quase tudo, mas está a ser um fracasso comercial. Difícil até, de
perceber, como pode sobreviver sem qualquer movimento. Mistério, ou não, que irá
decerto levar ao encerramento da maior parte destas unidades.
No
momento presente, Tavira quase esqueceu a agricultura. Tanto as culturas
tradicionais como as novas desapareceram. E, na senda do que aconteceu com o País,
cresceram os “agricultores de subsídio”. Só se cultiva aquilo que a U.E. aprova
e comparticipa.
Sem
a pesca, que entretanto viu abatida a grande maioria da sua frota, sem primores
agrícolas, nem vinha, e fruticultura virada apenas para os citrinos, de forte
dependência nos preços que a Espanha ou Marrocos mantêm em baixa, as limitações
à produtividade tornaram a Região de Tavira muito parecida com o resto do País.
Já
agora, e porque não há indústrias projectadas para Tavira, falta também saber por
que se perdem os anéis, e se calhar também os dedos, numa pomposa (e
dispendiosa) administração e nos altos custos de implantação de um parque
empresarial deserto. Mistério parecido com o das lojas dos imigrantes
orientais?
O
comércio definha e o turismo que sofre, além do mais, da habitual sazonalidade,
precisa de uma constante e renovada oferta de mar, sol, areia e bons acessos,
mas também na área cultural, cuja aposta a política local tem deitado a perder
nos últimos anos.
Tavira
tem uma série de potencialidades que poderiam voltar a ser apostas, assentes nesta
trilogia que envolve a pesca, a agricultura e o turismo, configurado este num
património histórico que precisa ser aproveitado, apoiado e visitado.
______________
Tenho
esperança que alguém equacione aquilo que esta cidade e este concelho precisam
para entrar de novo no caminho do
desenvolvimento pela harmonia estrutural que oferece.
Para
tanto, será necessário que surja na ribalta uma geração que não pretenda apenas
aproveitar-se. Mas que deseje contribuir para um futuro que a ajude a reencaminhar-se.
No
próximo ano há eleições autárquicas. E é precisamente a partir desse acto que
podem surgir ideias e soluções.
Mas
uma coisa é certa.
Se a escolha, para concorrerem, se destinar àqueles que os partidos definem como candidatos ideais, é melhor esquecer tal solução. Os “boys” já demonstraram a sua ineficácia.
Se a escolha, para concorrerem, se destinar àqueles que os partidos definem como candidatos ideais, é melhor esquecer tal solução. Os “boys” já demonstraram a sua ineficácia.
Tavira
precisa de bons cidadãos, não de soluções políticas para “arrumar” pretendentes
crónicos aos lugares.
O
futuro desta terra muito dependerá da qualidade dos seus próximos-futuros
dirigentes. Bom seria, pois, que a sociedade civil despertasse, esclarecendo o que
para ela pode significar a renovada e sempre actualizada pergunta: “Tavira, que
futuro?”.
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