por Luís Costa Silva
O mundo avançava agora
pelos anos oitenta ao ritmo não da revolução industrial, mas sim da revolução
tecnológica, a ficção científica começava já a fazer parte da realidade desses nossos
dias.
O primeiro micro
computador surge em 1980 em Inglaterra pela mão de um senhor de seu nome Sinclair,
o célebre ZX81, que muito rapidamente dará lugar ao famosíssimo ZX Spectrum, o
qual irá por sua vez dar inicio à vulgarização da microinformática, é também
neste mesmo ano de 1980, que a Internet (World Wide Web) dá os seus primeiros
passos por inicitiva do também inglês Tim Berners-Lee, funcionário contratado
do CERN - Organização Europeia para a
Investigação Nuclear, na Suíça, que desenvolveu o ENQUIRE, projecto
usado para reconhecer e armazenar associações de informação, iniciando-se pois
desta forma a era do tão relevante movimento integrador para a humanidade, que
se veio, poucos anos depois, a concretizar na globalização.
A Guerra das
Malvinas (1982), a últimos anos da Guerra Fria (1945 – 1991), a Invasão
soviética do Afeganistão (1979 – 1989), a continuidade do conflito
Israelo-Árabe, com a Guerra do Líbano de 1982, e a Guerra Irão - Iraque (entre
1980 e 1988), são alguns dos conflitos que atravessam a década de oitenta, que
terminará, na Europa, com a queda do muro de Berlim em Novembro de 1989, e com
o inicio da Perestroika que assinala o fim do regime Soviético.
É ainda nesta
década, e na sequência natural da década de setenta, que o nosso país se começa
a confrontar com o “império dos direitos” (adquiridos com o 25 de Abril), sem
que ninguém queira assumir os correspondentes deveres, o que de imediato se vai
reflectir na necessidade da segunda entrada, em 1983, do FMI em Portugal (a
primeira tinha sido em 1977). Curiosamente, uma e outra, sob governos do mesmo Primeiro-ministro,
o Doutor Mário Soares, o tal que agora quer que se rasgue o acordo que o seu
próprio partido assinou com a Troika.
Estava no entanto
em marcha, com inicio em 1977,
o processo da nossa adesão à CEE (Comunidade Económica Europeia),
salvação para todos os males da Nação (???), a qual acabaria por se concretizar
em 1986, no governo do Primeiro-ministro Professor Cavaco Silva, com todas as
consequências que bem se conhecem.
Então e Tavira?
Tavira, num processo que já se encontrava também em curso desde a década de setenta;
continuava paulatinamente a “desaparecer”, particularmente nos sectores
primário e secundário, já pouco se produzindo, com muito reduzidas excepções
para a agricultura (laranja e uva de mesa) e para as pescas em que pequenas
unidades ainda iam capturando pescado para abastecer o mercado local, e muito
menos se transformando, a Adega Cooperativa do Vinho de Tavira a desaparecer, o
lagar da Cooperativa dos Olivicultores e as fábricas de conserva, já como parte
do passado. Restava pois o sector do comércio e serviços.
Sem qualquer
reflexão, sem qualquer projecto para aproveitamento dos fundos comunitários,
que começavam a chegar, gastou-se o dinheiro em coisas que embora úteis e
necessárias (infra-estruturas viárias, eléctricas e de saneamento) não
obedeciam a outra ideia que não fosse a aposta nos serviços para a área turística.
É neste percurso,
perdendo a capacidade de produzir e de transformar, encostados aos fundos
comunitários, mal utilizados por prioridades mal estabelecidas, que perdemos as
oportunidades que os nossos autarcas não quiseram, ou pior que isso não
souberam e não foram, por total inépcia, capazes de aproveitar.
Sem
infra-estruturas para a fixação de industrias, pequenas que fossem, sem uma
infra-estrutura de apoio à actividade náutica, que todas as outras cidades e
vilas do Algarve foram conseguindo ter, sem um plano para a recuperação do Rio
Gilão, e das suas margens, como projecto qualificador da cidade, e sem qualquer
plano para a qualificação da Ilha de Tavira e dos seus acessos, aí estávamos
entregues a meras gestões do acaso, sem futuro e sem esperança. Exemplo, a
provisória, agora já definitiva, ponte militar construída no final da década em
apreço.
Então e os nossos
jovens, o sistema de ensino, a educação que nos dá o sentido critico para
podermos ambicionar a um dia ser livres? Nada, aos autos disse-se nada.
Nada se fez de substantivo para além da construção de algumas escolas, o ensino técnico e superior nem pensar, com os ciclos a serem dirigidos casuisticamente para áreas de formação, longe de qualquer objectivo para o futuro de Tavira. A década de oitenta chegava assim ao fim sem se ver qualquer inversão no processo de “apagamento” da nossa terra.
Nada se fez de substantivo para além da construção de algumas escolas, o ensino técnico e superior nem pensar, com os ciclos a serem dirigidos casuisticamente para áreas de formação, longe de qualquer objectivo para o futuro de Tavira. A década de oitenta chegava assim ao fim sem se ver qualquer inversão no processo de “apagamento” da nossa terra.
Estávamos pois a
entrar na década de noventa num estado que não augurava nada de bom para a
nossa cidade. E assim foi. O pior ainda estava para vir, mas disso trataremos
em próximas reflexões.
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