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segunda-feira, 28 de maio de 2012

PENSAR TAVIRA…… UMA REFLEXÃO (5.ª Parte)

por Luís Costa Silva
O mundo avançava agora pelos anos oitenta ao ritmo não da revolução industrial, mas sim da revolução tecnológica, a ficção científica começava já a fazer parte da realidade desses nossos dias.
O primeiro micro computador surge em 1980 em Inglaterra pela mão de um senhor de seu nome Sinclair, o célebre ZX81, que muito rapidamente dará lugar ao famosíssimo ZX Spectrum, o qual irá por sua vez dar inicio à vulgarização da microinformática, é também neste mesmo ano de 1980, que a Internet (World Wide Web) dá os seus primeiros passos por inicitiva do também inglês Tim Berners-Lee, funcionário contratado do CERN - Organização Europeia para a Investigação Nuclear, na Suíça, que desenvolveu o ENQUIRE, projecto usado para reconhecer e armazenar associações de informação, iniciando-se pois desta forma a era do tão relevante movimento integrador para a humanidade, que se veio, poucos anos depois, a concretizar na globalização.

A Guerra das Malvinas (1982), a últimos anos da Guerra Fria (1945 – 1991), a Invasão soviética do Afeganistão (1979 – 1989), a continuidade do conflito Israelo-Árabe, com a Guerra do Líbano de 1982, e a Guerra Irão - Iraque (entre 1980 e 1988), são alguns dos conflitos que atravessam a década de oitenta, que terminará, na Europa, com a queda do muro de Berlim em Novembro de 1989, e com o inicio da Perestroika que assinala o fim do regime Soviético.
É ainda nesta década, e na sequência natural da década de setenta, que o nosso país se começa a confrontar com o “império dos direitos” (adquiridos com o 25 de Abril), sem que ninguém queira assumir os correspondentes deveres, o que de imediato se vai reflectir na necessidade da segunda entrada, em 1983, do FMI em Portugal (a primeira tinha sido em 1977). Curiosamente, uma e outra, sob governos do mesmo Primeiro-ministro, o Doutor Mário Soares, o tal que agora quer que se rasgue o acordo que o seu próprio partido assinou com a Troika.
Estava no entanto em marcha, com inicio em 1977, o processo da nossa adesão à CEE (Comunidade Económica Europeia), salvação para todos os males da Nação (???), a qual acabaria por se concretizar em 1986, no governo do Primeiro-ministro Professor Cavaco Silva, com todas as consequências que bem se conhecem.
Então e Tavira? Tavira, num processo que já se encontrava também em curso desde a década de setenta; continuava paulatinamente a “desaparecer”, particularmente nos sectores primário e secundário, já pouco se produzindo, com muito reduzidas excepções para a agricultura (laranja e uva de mesa) e para as pescas em que pequenas unidades ainda iam capturando pescado para abastecer o mercado local, e muito menos se transformando, a Adega Cooperativa do Vinho de Tavira a desaparecer, o lagar da Cooperativa dos Olivicultores e as fábricas de conserva, já como parte do passado. Restava pois o sector do comércio e serviços.
Sem qualquer reflexão, sem qualquer projecto para aproveitamento dos fundos comunitários, que começavam a chegar, gastou-se o dinheiro em coisas que embora úteis e necessárias (infra-estruturas viárias, eléctricas e de saneamento) não obedeciam a outra ideia que não fosse a aposta nos serviços para a área turística.
É neste percurso, perdendo a capacidade de produzir e de transformar, encostados aos fundos comunitários, mal utilizados por prioridades mal estabelecidas, que perdemos as oportunidades que os nossos autarcas não quiseram, ou pior que isso não souberam e não foram, por total inépcia, capazes de aproveitar.
Sem infra-estruturas para a fixação de industrias, pequenas que fossem, sem uma infra-estrutura de apoio à actividade náutica, que todas as outras cidades e vilas do Algarve foram conseguindo ter, sem um plano para a recuperação do Rio Gilão, e das suas margens, como projecto qualificador da cidade, e sem qualquer plano para a qualificação da Ilha de Tavira e dos seus acessos, aí estávamos entregues a meras gestões do acaso, sem futuro e sem esperança. Exemplo, a provisória, agora já definitiva, ponte militar construída no final da década em apreço.
Então e os nossos jovens, o sistema de ensino, a educação que nos dá o sentido critico para podermos ambicionar a um dia ser livres? Nada, aos autos disse-se nada. 
Nada se fez de substantivo para além da construção de algumas escolas, o ensino técnico e superior nem pensar, com os ciclos a serem dirigidos casuisticamente para áreas de formação, longe de qualquer objectivo para o futuro de Tavira. A década de oitenta chegava assim ao fim sem se ver qualquer inversão no processo de “apagamento” da nossa terra.   
Estávamos pois a entrar na década de noventa num estado que não augurava nada de bom para a nossa cidade. E assim foi. O pior ainda estava para vir, mas disso trataremos em próximas reflexões.

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