Os anos sessenta.
Os loucos anos sessenta, da mini-saia, do Rock & Roll, do Twist, do “make
love not war”, do movimento Beatnick, dos Beatles, dos movimentos sociais como
a Primavera de Praga de 1968, e das lutas estudantis que se acabariam por decantar no Maio de 68 na Sorbonne, em França,e que em Portugal se iniciaram em Coimbra
em 1962, fizeram desta década uma referência na evolução do mundo ocidental, em plena
era bipolar entre as potencias que na altura se confrontavam no auge da Guerra
Fria, a URSS e os EUA.
A guerra do Vietname,
no Sueste Asiático e porque não a nossa guerra em África foram momentos
marcantes dos conflitos que atravessaram esta tão rica e determinante década do
Século passado.
E Tavira? Tavira,
recolhendo os ritmos e ecos de tudo o acima referido, assiste no início da década
de sessenta à chegada de milhares de militares para frequentarem o Curso de Sargentos
Milicianos, no nosso quartel à altura convertido no CISMI (Centro de Instrução
de Sargentos Milicianos de Infantaria), a caminho da guerra em África, na Guiné,
em Angola e em Moçambique.
Este é um dos factos
mais relevantes desta década para a nossa cidade, ao qual acresce o gradual
desaparecimento do atum das águas fronteiras à Ilha de Tavira.
Foto Carlos Cordeiro |
Mas vejamos por
partes, os sucessivos cursos de sargentos milicianos que durante os anos sessenta
foram passando por Tavira, trouxeram, para além de importantes e benéficas implicações
sociais através de inúmeros casamentos com as jovens da nossa terra, a ilusória
prosperidade que resultava de toda a economia (do aluguer de quartos, ao comércio
e serviços) que se desenrolava em torno da estadia dos referidos militares na
cidade, não querendo ninguém assumir que a guerra um dia terminaria e os
militares deixariam de se justificar em Tavira, urgindo encontrar desde logo
outros caminhos de desenvolvimento e sustentabilidade económica.
Festas da cidade |
Outro dos factores
determinantes para a quebra da nossa economia local e que na altura não
sofreram qualquer reacção dos nossos dirigentes políticos, foi o gradual desaparecimento
do atum das águas fronteiras à nossa ilha.
No inicio da década
de sessenta existiam quatro armações para a captura do atum e no fim da
referida década já só operava uma, a armação do Medo das Cascas, operada pela
Companhia Pescarias do Algarve, a partir do Arraial Ferreira Neto.
O que se passou neste
intervalo de tempo? O atum deixou de passar nas nossas águas? Sabe-se agora que
não, que o que aconteceu foi o atum ter começado a passar mais longe da costa,
dando a ilusória ideia de que teria deixado de passar.
É interessante,
para encontrar resposta para o afastamento do atum da nossa costa, comparar a
curva do aumento da motorização e do número de embarcações de pesca, e o
aumento da iluminação da costa que se projecta no mar contíguo à Ilha de Tavira
e a curva de diminuição de capturas de atum nas armações à altura existentes.
Verificar-se-ia que quantas mais embarcações motorizadas e iluminação foram existindo mais as capturas de atuns foram diminuindo. Aqui fica esta sugestão para quem queira aprofundar este tema tão relevante para a nossa terra e que iremos abordar em futuras crónicas.
Verificar-se-ia que quantas mais embarcações motorizadas e iluminação foram existindo mais as capturas de atuns foram diminuindo. Aqui fica esta sugestão para quem queira aprofundar este tema tão relevante para a nossa terra e que iremos abordar em futuras crónicas.
Estamos no fim de
uma viagem muito resumida, como convém a uma crónica, pela década de sessenta,
importando no entanto fixar a diminuição da importância que foi dada ao tecido
industrial e o aumento da importância do comércio e serviços, com percas ainda também
para o sector primário onde se inicia, na agricultura, a época da monocultura
da laranja.
Estas são contas de
uma próxima crónica para a década de setenta, a década da liberdade, que
infelizmente nos trouxe por arrasto uma forte irresponsabilidade não só económica
mas também social e política. Tavira não merecia tal destino…… falaremos disto
para podermos tentar vislumbrar um futuro para a nossa terra, sendo certo que a
história os julgará a eles e a nós se não tivermos capacidade e coragem para nos erguermos.
Luís Costa Silva
Nota importante: A necessidade
de sintetizar conduziu-nos a enumerar apenas as questões que no nosso modesto entender
mais directamente se relacionaram com a evolução económica da nossa terra,
nesta atribulada década.
Não podemos no entanto deixar de enumerar outros factos nacionais e locais que tão importantes vieram a ser para nós, as eleições de 1959, onde Humberto Delgado é, sabe-se agora, fraudulentamente afastado da Presidência da República, a criação da Escola Técnica de Tavira em 1960, a qual tantos e tão bons frutos deixou à nossa terra, o assassínio de Humberto Delgado, em Fevereiro de 1965, os “magriços” que em 1966 disputaram o Campeonato do Mundo de Futebol, ficando em terceiro lugar, a queda da cadeira do “ditador”, em Agosto de 1968, que poria fim à era “Salazarista” e daria inicio à chamada “Primavera Marcelista”, com a subida ao poder de Marcelo Caetano, a criação da primeira Escola Preparatória de Tavira, ainda naquele ano de 1968 e por fim as eleições de 1969, onde pela primeira vez a oposição democrática concorre sob a sigla MDP/CDE.
Não podemos no entanto deixar de enumerar outros factos nacionais e locais que tão importantes vieram a ser para nós, as eleições de 1959, onde Humberto Delgado é, sabe-se agora, fraudulentamente afastado da Presidência da República, a criação da Escola Técnica de Tavira em 1960, a qual tantos e tão bons frutos deixou à nossa terra, o assassínio de Humberto Delgado, em Fevereiro de 1965, os “magriços” que em 1966 disputaram o Campeonato do Mundo de Futebol, ficando em terceiro lugar, a queda da cadeira do “ditador”, em Agosto de 1968, que poria fim à era “Salazarista” e daria inicio à chamada “Primavera Marcelista”, com a subida ao poder de Marcelo Caetano, a criação da primeira Escola Preparatória de Tavira, ainda naquele ano de 1968 e por fim as eleições de 1969, onde pela primeira vez a oposição democrática concorre sob a sigla MDP/CDE.
É ainda nesta década
que a televisão se vulgariza, ainda a preto e branco, mas já dando a indicação
do poder que viria a ter, o qual se torna totalmente incontornável e quase
ilimitado na actualidade, começando, já naquele tempo, a pôr definitivamente em
crise o associativismo de carácter social, particularmente nos clubes existentes,
o Orfeão, o Ginásio, o Grémio e o Recreativo.
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