Na nossa última
crónica, por escassez de espaço e também lapso nosso, não referimos que no fim da
década em causa (década sessenta), já na Primavera Marcelista, um conjunto de jovens
políticos do anterior regime (Estado Novo - União Nacional), criaram uma ala
liberal na Assembleia Nacional, a qual se tornaria relevante porque serão eles a
fundar e constituir o centro direita do universo politico partidário do pós 25
de Abril.
Acresce ainda
também não ter sido referido, embora seja muito relevante, o declínio do sector
da indústria em Tavira, particularmente com o encerramento da Fábrica
Balsense (conservas de peixe), acompanhando a crise na pesca do atum, com o fim do
lançamento de três armações para a sua captura (Abóbora, Barril e Livramento),
assim como o fim da laboração da Fábrica J.A.Pacheco (moagem), com a sua
deslocalização, na altura para Faro.
Mas olhemos agora para a
década de setenta onde se irão verificar acontecimentos e factos tão relevantes
quanto determinantes para toda a comunidade Mundial, Nacional e local, como sejam o
conflito no médio Oriente, com a guerra do Yon Kippur (1973), ainda no mesmo
ano o 1.º choque petrolífero, o fim da guerra do Vietname, a queda do ditador
Franco, a chegada da televisão a cores ao nosso país e, especialmente para todos
nós, o dia 25 de Abril de 1974, que pôs fim a quarenta anos de ditadura e abriu
as portas da liberdade ao povo português.
E Tavira? Tavira
teve, nesta década, pela negativa, o maior impacto na sua economia, o qual acentuou o declínio da sua importância, avaliada no sentido da relevância
económica que tinha a nível regional, relevância esta que era factor de atractividade, para a
fixação de pessoas e empresas, e consequentemente para o seu desenvolvimento e bem estar da
sua população.
Em 1972 a Companhia Pescarias
do Algarve lançou pela ultima vez a sua armação ao largo de Tavira, tendo ao
longo de toda a época capturado um único atum, foi assim encerrado de vez o ciclo da pesca
do atum na nossa cidade, ficando o sector da pesca remetido para a pequena pesca,
pois as embarcações de médio porte (traineiras e arrastões) não tinham
condições para entrar quer na barra, quer no rio, sendo assim impedidas de
frequentar os cais de atracação e desembarque na cidade, já que não existia uma infraestrutura adequada para o efeito, um porto de pesca (quarenta anos depois parece que ainda não existe, nem irá existir).
A Fábrica de
Conservas Balsense, que entretanto tinha operado a traineira “Flor do Sul”, com
as suas enviadas, já tinha encerrado as portas e as referidas embarcações
foram desviadas para Vila Real de Santo António e posteriormente para Olhão, por falta de
condições para a sua operação em Tavira.
Restava a Fábrica
Tavirense (antiga J.J.Celorico Palma) que lutava com fortes problemas de
acesso às necessárias matérias-primas.
Chegados ao dia 25
de Abril de 1974, tínhamos pois uma fábrica de conservas de peixe, que, como referido, tinha dificuldades de acesso às matérias primas, uma Adega Cooperativa de Vinho de
Tavira e uma Adega Cooperativa de Olivicultores, com um lagar para a respectiva
produção de azeite, uma Cooperativa de Agricultores em Santa Catarina,
alguns negociantes de frutos secos (amêndoas, figos e alfarrobas), uma produção
de sal em crise e já sem peso económico, por a sua higienização ser
efectuada nas fábricas, não em Tavira mas em Olhão (SINEXPRAL e SOPURSAL), uma
agricultura em acelerada mudança para a
já referida monocultura da laranja (que fez desaparecer o lindíssimo entorno de amendoeiras, o qual, na Primavera, revestia de branco, qual manto de neve, todos os arredores da cidade, de Santa Margarida ao Vale do Almargem e à mata de Santa Rita), um sector de serviços ainda não muito influenciado pelo turismo nascente, com uma única unidade hoteleira no Hotel da Quinta das Oliveiras e várias pensões na cidade (Pensão Arcada, Pensão do Zeca da Bica, Pensão Imperial e Pensão Avenida, entre outras), para além de um empreendimento turístico, já na altura construído, a poente de Santa Luzia, as Pedras d’El Rei, e por fim um comércio assente na presença dos militares do CISMI, a caminho de África, os quais garantiam uma economia que embora, maioritariamente paralela, ia sustentando a cidade.
já referida monocultura da laranja (que fez desaparecer o lindíssimo entorno de amendoeiras, o qual, na Primavera, revestia de branco, qual manto de neve, todos os arredores da cidade, de Santa Margarida ao Vale do Almargem e à mata de Santa Rita), um sector de serviços ainda não muito influenciado pelo turismo nascente, com uma única unidade hoteleira no Hotel da Quinta das Oliveiras e várias pensões na cidade (Pensão Arcada, Pensão do Zeca da Bica, Pensão Imperial e Pensão Avenida, entre outras), para além de um empreendimento turístico, já na altura construído, a poente de Santa Luzia, as Pedras d’El Rei, e por fim um comércio assente na presença dos militares do CISMI, a caminho de África, os quais garantiam uma economia que embora, maioritariamente paralela, ia sustentando a cidade.
A madrugada de
Abril, apanhou-nos pois já neste processo de decadência económica, só mitigada
pelo aparecimento, como referido, das primeiras unidades de prestação de
serviços na área turística.
Com Abril chegou a
liberdade, mas infelizmente não chegou nem a responsabilidade, nem a
competência, nem a capacidade para avaliar e relançar a nossa cidade para os
desafios desta nova realidade, o ensino privado tinha sido extinto, o ensino
técnico foi de imediato condenado, e a Escola de Pesca desapareceu também de
imediato por pertencer à organização “fascista” do Almirante Tenreiro. Chegava
o ditoso Estado Social.
O Estado passava a
ser o sustento de toda uma população, mesmo que a mesma não estivesse
muito interessada em produzir, ou em contribuir para esse mesmo Estado. O Estado que dava direitos sem impor deveres.
Esta realidade
abarcava quer o sector patronal, quer o sector laboral, sendo que aquele, o
patronato (assente na oligarquia das famílias que dominavam a economia Nacional
no Estado Novo), fez muito rapidamente sair do território Nacional o máximo de
recursos financeiros que na altura conseguiu reunir, deixando a nossa economia em grandes dificuldades.
Saídos da Ditadura do Estado Novo, ficámos à beira de uma nova ditadura, a Ditadura do Proletariado, protagonizada agora pelo Partido Comunista que tudo fez para colocar o nosso país na esfera de influência política da União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS), como mais um dos seus vários países satélites. Valeram de novo os militares que no dia 25 de Novembro de 1975 inviabilizaram o projecto marxista leninista, de caris estalinista, que se encontrava em marcha, instalando um sistema de democracia parlamentar, o qual viria a perdurar até aos nossos dias.
Bem hajam esses
militares e permitam-me uma saudação especial ao falecido Major Melo Antunes,
redactor do Documento dos Nove (que na realidade eram vinte e sete), e ao agora General Ramalho Eanes, que no terreno
conduziu as operações militares.
É durante este
período “revolucionário”, suportado pela aliança "Povo - MFA", que se cometem os
maiores desmandos e atentados à propriedade privada (ex: reforma agrária e os diversos
tipos de ocupações selvagens), à liberdade de pensamento e à autoridade do
Estado, na linha dos “revolucionários” modelos “democráticos” dos sistemas de partido único,
partido esse sempre constituído por uma elite politica (vanguarda), que liderando as massas de
trabalhadores (os quais não tinham, nem poderiam ter, capacidade por si sós para poderem tomar quaisquer
decisões), as conduziam para o caminho daquilo que seria o seu bem estar social e plena felicidade
terrena. Deu no que deu, e em fins da década de oitenta, início da década de
noventa, as massas cansaram-se de alimentar o aparelho corrupto de partido
único, com as suas elites "revolucionárias", e deram com tudo de “pantanas”.
Vamos a Tavira, já
que esta muito resumida e subjectiva apreciação política (necessariamente
incompleta, pouco pacifica e certamente com bastantes incorrecções) teve como
único sentido localizar a necessidade que a citada elite política "revolucionária", do pós 25 de Abril, teve de no
imediato conduzir os processos de descolonização, para que as respectivas populações indígenas oprimidas (o que em muitos casos infelizmente até era verdade) pudessem ser
conduzidas à liberdade e felicidade, pelas respectivas elites locais (vanguardas à boa maneira soviética), devidamente e revolucionariamente
doutrinadas.
Claro que as referidas elites políticas fizeram o que fizeram (deixando as suas populações na mais inconcebível e inaceitável das misérias, como até hoje ainda se encontram),com enriquecimentos incalculáveis, grandes revolucionários. Viva a revolução proletária internacional.
Citando o tão oportuno e clarividente Mia Couto, "a maior desgraça dos países pobres é que criam ricos, em vez de criar riqueza".
Claro que as referidas elites políticas fizeram o que fizeram (deixando as suas populações na mais inconcebível e inaceitável das misérias, como até hoje ainda se encontram),com enriquecimentos incalculáveis, grandes revolucionários. Viva a revolução proletária internacional.
Citando o tão oportuno e clarividente Mia Couto, "a maior desgraça dos países pobres é que criam ricos, em vez de criar riqueza".
“Nem mais um
soldado para África”, slogan revolucionário da altura, sobre o qual não vamos opinar, por
não ser este o espaço próprio para o fazer, mas que foi determinante para a
nossa terra porque encerrou o ciclo de formação no CISMI, desaparecendo de um
dia para o outro milhares de militares, que todos os anos permaneciam na nossa
terra, com todas as consequências que essa estadia tinha para a economia
local.
Ainda não tínhamos
batido no fundo, porque a nova classe política saída do 25 de Abril (já que a
anterior classe politica “fascista”, foi totalmente decapitada pelo “processo
revolucionário em curso”, isto independentemente das suas capacidades, competências
ou valores, valores estes tão relevantes quanto o são, os valores do sentido de serviço
público à comunidade, o civismo e a honestidade, etc.), a nova classe dirigente, dizíamos,
quiçá com uma muito boa formação política, não demonstrou ter quaisquer condições para
assumir o poder, mas pior que isso verificou-se sim que estava muito bem
preparada para se servir do poder, como veio, e continua a acontecer, e que está infelizmente demonstrado até à exaustão.
Tavira, entre
insultos, pinturas de paredes e a assunção do poder (revolucionário), por quem falava mais alto
e melhor (entenda-se falar melhor como a capacidade de levar os outros a seguir
as suas ideias, ou seja simplisticamente “manipular” as pessoas), acabou por
sucessivamente ir perdendo e comprometendo as poucas e restantes estruturas
produtivas que a nossa terra possuía.
Assim, os milicianos
já tinham deixado de passar pela nossa terra; a única e restante Fábrica de Conservas
Tavirense, encerrou portas porque um adventista revolucionário (oriundo de
Olhão) conseguiu convencer as trabalhadoras que a fábrica era delas, e
naturalmente os legítimos proprietários (absentistas) encerraram a fábrica e
alienaram o edifício; a Cooperativa de Produtores de Vinho de Tavira, entrou
num complexo processo de má gestão, de incompetência e incapacidade dos
produtores de uvas, para defenderem os seu direitos e interesses, caminhando
para o seu encerramento; a Adega Cooperativa de Olivicultores entrou num
processo semelhante ao anterior, numa clara indicação da falta de receptividade
e decrepitude do movimento cooperativo; a produção de sal já se encontrava em
crise, com a maioria das salinas a serem arrendadas às já referidas fábricas de
higienização em Olhão, com a agravante de as mesmas terem destruído a estrutura física da maioria
de salinas tradicionais, património este que será já muito difícil vir a
recuperar; a pesca ficou reduzida como referido à pequena pesca com embarcações
de boca aberta, muitas delas com um único tripulante (embarcações de recreio),
o que indicia bem o individualismo no sector, indicador interessante para
aferir do nível cultural médio dos intervenientes, não podendo pois por este motivo entender a
importância das organizações de produtores como factor determinante para o seu desenvolvimento e
ainda a regularização dos mercados; a agricultura a sofrer da mesma doença e cada
vez mais virada para a fruticultura da laranja, embora com ainda algumas, poucas,
sobreviventes explorações de estufas, para o plantio e produção de primores, destinados ao
mercado local.
Aí estamos nós na
década de oitenta com o regresso dos militares aos quartéis, com uma constituição
a caminho do socialismo, uma situação económica que nos levou, na altura, aos braços do
FMI, e a nossa terra sem ninguém que quisesse pensar no nosso futuro enquanto
comunidade.
A nova classe
politica, revolucionariamente esvaziada dos valores do “fascismo” (ironia do autor,
pois que os valores que enformam qualquer sociedade, não
são património de qualquer que seja o sistema politico, ideologia ou partido,
são isso sim património dessa própria sociedade), a referida classe politica alinhou-se nas diferentes
estruturas dos partidos políticos, que para o efeito foram sendo criados,
passando o tempo e gastando os recursos, que lhe são postos à disposição, em
proveito próprio e em estéreis quezílias politicas, sem cuidarem do bem público
que deveriam promover, e fazendo da política um verdadeiro e lucrativo modo de vida, para toda a vida, uma carreira, bastante lucrativa diga-se.
Tavira não escapou a
este fim de década, com um apagamento económico que não preocupou os nossos
autarcas, os quais nem se deram ao trabalho de tentar projectá-la para além dos
mandatos de quatro anos para os quais foram sendo eleitos. Onde chegámos?
Seguem-se os anos
oitenta, década da nossa entrada na Europa desenvolvida, e que tantas e tão relevantes
consequências trouxeram para a nossa terra, matérias essas que iremos tratar
numa próxima crónica que esperamos possa ser suficientemente interessante para
ser seguida e lida por todos vós.
Luís
Costa Silva
Nota: Juntam-se os endereços de dois vídeos do Youtube, para quem quiser e tiver tempo para recordar Abril:
Sem comentários:
Enviar um comentário