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sábado, 7 de abril de 2012

DIÁLOGOS MUITO PROVÁVEIS

CARAS SEM VERGONHA ou VERGONHA NA CARA?

1. O Florindo, moço do meu tempo de Escola, vinha desenfreado para desabafar. Aceitei o encargo de o ouvir e ele não se fez rogado:
- Não leste as últimas? Aquele inefável ex-Presidente da República Mário Soares insulta autoridades, diz que não paga a multa do excesso - e que excesso! - de velocidade e ninguém lhe vai à mão.
- Homem, tu estás é excitado! Então não vês que o estatuto de "Pai da Pátria" a que se permite  e lhe permitem, dá direito a ser arrogante?
- Direito coisa senhuma... As arrogâncias não encaixam e a sociedade portuguesa já lhe tolera uma série de aberrantes benefícios. Onde é que isto se viu? O Estado a pagar multas de trânsito...
- Não te zangues que ele por aí não leva a sua avante. A não ser que alguma entidade pública conceda mais um subsídio à Fundação, para cobrir despesas pessoais do "artista", incluindo multas. Há muita maneira de "matar pulgas" e é verdade que a contenção orçamental é só para quem é?
2. Nisso te dou razão. Porque, no mesmo dia em que veio a lume a triste figura que MS fez, houve notícia de outra esperteza saloia. Os dirigentes da empresa (Pública) subsidiária da CP, também falida, sempre compraram os automóveis de luxo para o Conselho de Administração. Foram mais uma centenas de milhares de euros...
- Compraram? - interrompi - Mas tinha sido anunciada a anulação do concurso, como aliás decorre da proibição de assumir encargos para os quais não haja capacidade orçamental financeira...
- Compraram os carrinhos de luxo, compraram! Tu pareces ser do tempo em que o Estado não gastava dinheiro sem verba inscrita em orçamento. E ai daquele que o autorizasse.
- Sim! Era demitido sem remissão.

3. Os tempos são outros - retorquiu o Florindo - e nós continuamos a aguentar uma série de gente que se tornou profissional da política e vive à custa do erário público, sem nada produzir. Quando deixam os cargos ficam a gravitar no sistema com direito a pensão, subsídio ou outra qualquer mordomia.
O Florindo já estava mais calmo. Tinha desabafado o suficiente. E enquanto saboreava um café que fiz questão de lhe oferecer, foi lembrando:
- Eu sempre tenho dito que havia por aí muita cara sem vergonha. Só não sei quando os que delas se queixavam e andam a dizer que vão pôr "ordem no convento" começam por demonstrar que têm alguma vergonha na cara.
De olho enviesado pelo trocadilho rematei a conversa:
- Pergunta aos que lá estão agora. Pergunta e depois me dizes alguma coisa.
*
Após pagar as bicas, dirigi-me para a banca dos jornais, a ver se se confirmava aquela conversinha do Florindo...

                                                                       Lopes Sabino

1 comentário:

  1. Caro Amigo
    Se o Bochechas é o Pai da Pátria, então fez o País à imagem do filho Joazinho...
    Parabéns...

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