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quarta-feira, 18 de abril de 2012

PENSAR TAVIRA……... UMA REFLEXÃO (3.ª Parte)


Os anos sessenta. Os loucos anos sessenta, da mini-saia, do Rock & Roll, do Twist, do “make love not war”, do movimento Beatnick, dos Beatles, dos movimentos sociais como a Primavera de Praga de 1968, e das lutas estudantis que se acabariam por decantar no Maio de 68 na Sorbonne, em França,e que em Portugal se iniciaram em Coimbra em 1962, fizeram desta década uma referência na evolução do mundo ocidental, em plena era bipolar entre as potencias que na altura se confrontavam no auge da Guerra Fria, a URSS e os EUA.
A guerra do Vietname, no Sueste Asiático e porque não a nossa guerra em África foram momentos marcantes dos conflitos que atravessaram esta tão rica e determinante década do Século passado.
E Tavira? Tavira, recolhendo os ritmos e ecos de tudo o acima referido, assiste no início da década de sessenta à chegada de milhares de militares para frequentarem o Curso de Sargentos Milicianos, no nosso quartel à altura convertido no CISMI (Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria), a caminho da guerra em África, na Guiné, em Angola e em Moçambique.
Este é um dos factos mais relevantes desta década para a nossa cidade, ao qual acresce o gradual desaparecimento do atum das águas fronteiras à Ilha de Tavira.

Foto Carlos Cordeiro
Mas vejamos por partes, os sucessivos cursos de sargentos milicianos que durante os anos sessenta foram passando por Tavira, trouxeram, para além de importantes e benéficas implicações sociais através de inúmeros casamentos com as jovens da nossa terra, a ilusória prosperidade que resultava de toda a economia (do aluguer de quartos, ao comércio e serviços) que se desenrolava em torno da estadia dos referidos militares na cidade, não querendo ninguém assumir que a guerra um dia terminaria e os militares deixariam de se justificar em Tavira, urgindo encontrar desde logo outros caminhos de desenvolvimento e sustentabilidade económica.
Festas da cidade
Este é no nosso entender o maior erro estratégico dos nossos decisores políticos locais, o qual iria ter repercussões que adicionadas a outros factores que entretanto ocorreram vieram a projectar-se no futuro da nossa terra, ou seja nos tempos que hoje vivemos.
Outro dos factores determinantes para a quebra da nossa economia local e que na altura não sofreram qualquer reacção dos nossos dirigentes políticos, foi o gradual desaparecimento do atum das águas fronteiras à nossa ilha.
No inicio da década de sessenta existiam quatro armações para a captura do atum e no fim da referida década já só operava uma, a armação do Medo das Cascas, operada pela Companhia Pescarias do Algarve, a partir do Arraial Ferreira Neto.
O que se passou neste intervalo de tempo? O atum deixou de passar nas nossas águas? Sabe-se agora que não, que o que aconteceu foi o atum ter começado a passar mais longe da costa, dando a ilusória ideia de que teria deixado de passar.
É interessante, para encontrar resposta para o afastamento do atum da nossa costa, comparar a curva do aumento da motorização e do número de embarcações de pesca, e o aumento da iluminação da costa que se projecta no mar contíguo à Ilha de Tavira e a curva de diminuição de capturas de atum nas armações à altura existentes. 

Verificar-se-ia que quantas mais embarcações motorizadas e iluminação foram existindo mais as capturas de atuns foram diminuindo. Aqui fica esta sugestão para quem queira aprofundar este tema tão relevante para a nossa terra e que iremos abordar em futuras crónicas.
Estamos no fim de uma viagem muito resumida, como convém a uma crónica, pela década de sessenta, importando no entanto fixar a diminuição da importância que foi dada ao tecido industrial e o aumento da importância do comércio e serviços, com percas ainda também para o sector primário onde se inicia, na agricultura, a época da monocultura da laranja.
Estas são contas de uma próxima crónica para a década de setenta, a década da liberdade, que infelizmente nos trouxe por arrasto uma forte irresponsabilidade não só económica mas também social e política. Tavira não merecia tal destino…… falaremos disto para podermos tentar vislumbrar um futuro para a nossa terra, sendo certo que a história os julgará a eles e a nós se não tivermos capacidade e coragem para nos erguermos.  
                                                                                                                          
                                                                   Luís Costa Silva 
 
Nota importante: A necessidade de sintetizar conduziu-nos a enumerar apenas as questões que no nosso modesto entender mais directamente se relacionaram com a evolução económica da nossa terra, nesta atribulada década. 
Não podemos no entanto deixar de enumerar outros factos nacionais e locais que tão importantes vieram a ser para nós, as eleições de 1959, onde Humberto Delgado é, sabe-se agora, fraudulentamente afastado da Presidência da República, a criação da Escola Técnica de Tavira em 1960, a qual tantos e tão bons frutos deixou à nossa terra, o assassínio de Humberto Delgado, em Fevereiro de 1965, os “magriços” que em 1966 disputaram o Campeonato do Mundo de Futebol, ficando em terceiro lugar, a queda da cadeira do “ditador”, em Agosto de 1968, que poria fim à era “Salazarista” e daria inicio à chamada “Primavera Marcelista”, com a subida ao poder de Marcelo Caetano, a criação da primeira Escola Preparatória de Tavira, ainda naquele ano de 1968 e por fim as eleições de 1969, onde pela primeira vez a oposição democrática concorre sob a sigla MDP/CDE.
É ainda nesta década que a televisão se vulgariza, ainda a preto e branco, mas já dando a indicação do poder que viria a ter, o qual se torna totalmente incontornável e quase ilimitado na actualidade, começando, já naquele tempo, a pôr definitivamente em crise o associativismo de carácter social, particularmente nos clubes existentes, o Orfeão, o Ginásio, o Grémio e o Recreativo.   
           

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